quarta-feira, 10 de abril de 2013

Eleição foi um filme de gângsters



 
Eles comandaram as filmagens e ela ficou só.

Se simplesmente consagrar os resultados apurados na tarde do último domingo em Caiçara do Rio do Vento, a justiça eleitoral estará mostrando o quando é de chumbo a venda sobre os olhos de Themis.
Passei a noite do sábado para domingo em claro, acompanhando e noticiando “on line” vários casos de gângsters e agiotas comprando votos, sendo flagrados e perseguidos. Em pelo menos um caso o criminoso foi preso em flagrante, para receber ordem de soltura minutos depois, segundo consta graças a telefonema que ligou o comprador à residência oficial da governadora Rosalba Ciarlini em Natal.
A prisão do vereador Sebastião Hiran da Costa (PSDB), o “Tião Galinha”, em pleno ato ilícito por trás da quadra de esportes coberta de Caiçara do Rio do Vento, foi digna de filme sobre “gangsters” dos anos trinta na Chicago de policiais comprados. As cenas gravadas mostram que quem lhe deu voz de prisão foram populares, porque a princípio, contrafeita, polícia só queria assistir.
Apontado em Caiçara como o caiçarense mais amigo de Rosalba Ciarlini, em cuja residência costuma tomar café, quando está em Natal, “Tião Galinha” chegou a trocar sopapos com uma mulher, até que finalmente um policial lhe aplicou algemas. Os populares quiseram entregá-lo à polícia federal, mas os militares estaduais resolveram assumir a custódia, na forma da lei eleitoral, argumentando que os agentes federais haviam ido dormir em Lajes.
Passando os pés pelas mãos, a polícia militar tratou o caso como ocorrência prevista no código penal, e não no eleitoral, e soltou o marginal à revelia da juíza eleitoral de Lajes, que tem jurisdição sobre Caiçara do Rio do Vento. Minutos depois, um irmão da candidata Maria da Conceição Gomes Lisboa da Rocha, Etevaldo Júnior, foi flagrado numa transação patrocinada pelo sogro, o doublê de agiota e político conhecido como Júnior Bernardo, fugiu e se entregou, com seu carro cheio de dinheiro para a concretização da compra de votos, à polícia rodoviária federal em Lajes, mas esta simplesmente o mandou para casa.
Como se não bastassem esses casos, policiais militares, fardados e armados e comandados por um sargento conhecido por vinculações “off-law” na região do Potengí, foram flagrados dando proteção a Júnior Bernardo e outros compradores enquanto estes promoviam suas transações financeiras, em detrimento da vontade popular, em pleno campo de futebol de Caiçara do Rio do Vento.
Líderes da coligação que assim receberia mais votos nas urnas montaram seu quartel general na localidade de Cachoeira do Sapo e numa fazenda bem à vista de Caiçara do Rio do Vento e prodigalizaram ordens de abastecimento de combustíveis em postos situados ao longo da BR 304. A polícia federal teve acesso a alguns desses documentos e tem a degravação de telefonemas em que o ex-prefeito Etevaldo Lisboa, pai da candidata do Dem, era caracterizado como o responsável pela operação de encher tanques no posto “Espacial”, em Macaíba.
Alertada sobre a desenvoltura com que a família Lisboa e seus asseclas viciavam a escolha pelo povo, a polícia federal só cumpriu mandado de busca e apreensão na casa da fazenda de Etevaldo ao anoitecer do domingo, depois que, em Natal, a assessoria de comunicação social do Tribunal Regional Eleitoral havia divulgado a informação sobre a vitória de Conceição Rocha.
Na fazenda dos Lisboa, a polícia federal encontrou só encontrou vestígios do que teria empalmado se houvesse feito esse trabalho na madrugada anterior ou ao longo do dia. Mas achou poucas mas substanciosas provas da fraude, com as quais resolveu levar a Conceição Rocha para o cartório eleitoral de Lajes, onde foi instaurado inquérito para apurar se houve mesmo corrupção eleitoral em Caiçara do Rio do Vento.
Ao tirá-la do carro-palanque no qual a jovem dançava a comemoração de sua “eleição”, a polícia federal acabou a festa. Quando Conceição voltou para Caiçara do Rio do Vento, liberada pela justiça, havia poucos bêbados na via pública. Receando ser presos, os demais expoentes de sua candidatura tinham antecipado sua saída da cidade com destino à Grande Natal, onde residem.  
(Texto de abertura da edição deste dia 10, hoje, do “Jornal de Roberto Guedes”, que assino toda quarta-feira no matutino impresso “Novo Jornal”, de Natal).
Postado às 11h14m de quarta-feira 130410.    

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